'Eu imaginava como seria passar o resto da vida beijando-o
logo nos primeiros instantes do primeiro beijo. Eu imaginava ele
acordando ao meu lado, eu usando um pijama vergonhoso de desenho.Imaginava ele conhecendo meus pais, e fazendo fondue. Imaginava ele deixando de ir fumar com os amigos e surgindo na minha
porta com uma caixa de chocolates.
É aí que a imaginação tirava os pés do
chão. Então, já "des"imaginava outra vez e imaginava a primeira briga. O
beijo para fazer as pazes. O rosto esmagado de tanto dormir em uma
manhã de domingo. Imaginava o sobrenome junto. A secretária eletrônica
gravada com as nossas vozes. Não importa se eu nem tinha a ouvido. No
maior dos níveis de imaginação, eu conseguia sentir e até cheirar a gola da camisa que nem toquei.
Aí eu voava de novo. Imaginava a saudade. Sentia enjoo e
parava para imaginar a rotina ficando chata. Mas aí imaginava a gente se
amando, e ele se ajoelhando, pedindo minha mão e abrindo o jornal para
pesquisar um apartamento de duas vagas de garagem. Voltava a imaginar o
casamento, os filhos, os olhos puxadinhos dele , a pele branquinha dela.. Imaginava ele no meio de uma praça de alimentação de shopping,
contando histórias da época do colégio para fazer o menino parar de
chorar. E também a viagem para Praga, para o Hawaii, para Ilhabela. O carro com um grande porta-malas, a vida confortável e a
sala aconchegante e quente.
E tudo isso eu conseguia imaginar sem nem ter tido uma história com quem quer que fosse o "ele" '